Pode o Cristão Ser Maçom?


Por João Alexandre Paschoalin Filho, 33

Na Maçonaria, Jesus é visto como um mestre moral e espiritual, cujos princípios refletem ideais de amor, compaixão, justiça e verdade. Considerado um exemplo supremo de virtude e moralidade, sua vida e lições fornecem uma base sólida para o desenvolvimento do caráter justo dos obreiros.

As lições de Jesus sobre amar o próximo e tratar todos com respeito são refletidas na Maçonaria, que promove a tolerância religiosa e a inclusão. Os obreiros são encorajados a respeitar todas as tradições religiosas e a buscar a verdade espiritual em diversas formas. Esta ênfase na tolerância reflete a crença de que a verdade espiritual é universal e pode ser encontrada em todas as tradições. Assim, a ordem promove a unidade na diversidade com objetivo de construir uma fraternidade global em que todos possam colaborar para o bem comum. Este ideal está relacionado à mensagem de Jesus de que todos são filhos de Deus e devem viver em amor e harmonia.

Os maçons são incentivados a trabalhar pela paz, refletindo o ideal de fraternidade universal promovido por Jesus. Em seus ritos, a Maçonaria enfatiza viver de acordo com altos padrões morais e tratar os outros com respeito e dignidade.

A Maçonaria não é sectária, mas admite que os ensinamentos de Jesus são universais e eternos. O amor, a compaixão, a justiça e a verdade que Jesus ensinou são considerados pela ordem como valores que transcendem qualquer religião. A Maçonaria trabalha para promover a paz, a harmonia e a compreensão mútua, unindo pessoas de todas as crenças sob esses valores comuns.

Os membros da arte real utilizam-se de vários símbolos em seus rituais, e Jesus é frequentemente representado por alguns destes. Sua vida e sacrifício são comparados à construção do templo espiritual dentro de cada pessoa, sendo ele visto como o "Mestre Arquiteto" do edifício, podendo ser relacionado à figura de Hiram Abiff. Essa construção simbólica enfatiza o crescimento ético e pessoal. Neste contexto, o Templo de Salomão consiste em uma figura arquetípica, representando o ponto de encontro entre a natureza humana e a divindade. Jesus, como "Mestre Arquiteto", é visto como uma ponte entre o divino e o humano, ajudando os obreiros a construírem seus próprios templos internos. Dessa forma, destruição e reconstrução do Templo simbolizam a transformação espiritual que os obreiros almejam alcançar, assim como a morte e ressurreição de Jesus. A Pedra Angular (Salmo 118:22-23), símbolo frequente na maçonaria, também é relacionada à figura do Mestre dos Mestres, sendo usada como símbolo de estabilidade moral e constância, ou seja, como base sólida para fundação da verdade e da vida espiritual do maçom.

“A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular. Isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós”. (Salmo 118:22-23).

Este versículo é frequentemente citado no Novo Testamento, especificamente em Mateus 21:42, Marcos 12:10, Lucas 20:17, e Atos 4:11, referindo-se a Jesus como a pedra angular rejeitada pelos líderes religiosos, mas que se tornou fundamental na construção do reino de Deus.

Os graus da Maçonaria, especialmente os do Rito Escocês Antigo e Aceito e do Rito de York, estão intimamente relacionados aos ensinamentos de Jesus. Nos graus superiores do Rito Escocês, temas como sacrifício, redenção e iluminação são abordados. O grau de Cavaleiro Rosa-Cruz, com forte simbolismo gnóstico, é baseado nos ensinamentos de Jesus, enfatizando seu sacrifício pela redenção e pela verdade espiritual; o de Cavaleiro Templário do Rito de York também tem forte conexão com os ensinamentos de Jesus e é dedicado à herança dos Cavaleiros Templários, que defendiam a fé cristã no passado.

A Maçonaria, com sua longa tradição esotérica, busca descobrir as verdades ocultas por trás dos escritos sagrados e das tradições religiosas. Esta tradição vê Jesus como um mestre iniciático que ensina sabedoria espiritual profunda e oculta aos seus apóstolos e discípulos. Seus ensinamentos são frequentemente interpretados simbolicamente, oferecendo significados que vão além da interpretação literal. Na tradição gnóstica, Jesus é visto como um sábio que transmite ensinamentos esotéricos aos seus seguidores. Não obstante, muitos obreiros interpretam Jesus como o "Cristo interno", ou seja, a presença divina dentro de cada pessoa (centelha divina, santo dos santos), uma ideia compatível com o postulado gnóstico e o cristianismo místico primitivo apresentado nos evangelhos apócrifos.

Por meio de uma leitura crítica dos ensinamentos maçônicos e tendo em vista o conteúdo de alguns graus superiores, a ordem considera Jesus como um dos avatares enviados por Deus à Terra para nutrir o homem da sabedoria necessária à sua transcendência ao Eterno, tal como Hermes Trismegisto, Moisés, Confúcio, Mohamed e Pitágoras, os quais também são portadores de conhecimento esotérico e espiritual. Nesse contexto, Jesus não é visto como um messias ou intermediário exclusivo entre a salvação e o homem, mas sim como um mestre iniciático que orienta os aprendizes no caminho. Essa jornada, representada pelos rituais de iniciação, simboliza a morte do “eu” profano e o renascimento do “eu” espiritual.

Jesus é frequentemente associado à sabedoria oculta, que deve ser adquirida por meio da prática espiritual e do estudo individual. Seus ensinamentos possuem múltiplos significados que podem ser descobertos por meio da reflexão e da meditação que devem ser praticados pelos verdadeiros buscadores:

 “Mas tu, quando orares, entra sozinho no teu aposento, e fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê em oculto, te recompensará publicamente. E orando, não useis vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvido”. (Mateus 6:6-7).

Além deste enfoque na sabedoria oculta, os estudos esotéricos da Maçonaria buscam compreender as verdades profundas e universais ensinadas pelo Cristo que subjazem à realidade. Essa é uma das razões pelas quais a Igreja Católica e outras denominações cristãs tradicionais mantêm certo conflito com a ordem. A Igreja Católica, por exemplo, condena a Maçonaria por meio de bulas papais como a "In eminenti apostolatus specula", emitida pelo Papa Clemente XII em 1738, e a "Humanum genus", emitida pelo Papa Leão XIII em 1884, que afirmam que os obreiros vivem em constante pecado.

A questão de se um maçom pode ser considerado cristão surge devido às divergências entre as perspectivas gnósticas da Maçonaria e o cristianismo tradicional, pois a aceitação de Jesus como o Messias e Salvador é fundamental para muitos cristãos. Assim, a Maçonaria pode conflitar com essa crença ao tratar Jesus como um avatar ou mestre iniciático. O conceito maçônico de Jesus é visto como um exemplo moral e espiritual, mas não como o único mediador entre Deus e os homens, o que a difere significativamente da doutrina cristã e das igrejas estabelecidas.

Como resultado, aqueles que se identificam fortemente com os ensinamentos tradicionais da Igreja podem ter dificuldade em conciliar suas crenças com a filosofia maçônica. No entanto, alguns cristãos conseguem combinar ambas as perspectivas, interpretando a palavra de Jesus de maneira a harmonizar os valores universais promovidos pela Maçonaria com suas próprias crenças, ou seja, a Verdade não é propriedade de ninguém, mas sim de todos que a buscam dentro de si.

Deve-se destacar que ambas as tradições compartilham valores centrais como amor, compaixão, justiça e verdade. Focar nesses princípios comuns pode promover um diálogo construtivo, neste contexto, a prática do ecumenismo e do diálogo inter-religioso é crucial.

A Maçonaria incentiva o respeito por todas as tradições religiosas, promovendo a inclusão e a compreensão mútua. Por este prisma, mentores espirituais, tanto na Maçonaria quanto na Igreja, podem ajudar os indivíduos a navegarem pelas complexidades teológicas e filosóficas acerca deste tema, a fim de acalmar tempestades espirituais, assim com Cristo acalmou o mar da Galileia.

 

“E, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. E eis que no mar se levantou uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém, estava dormindo. E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo: Senhor, salva-nos! que perecemos. E ele disse-lhes: Por que temeis, homens de pouca fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se uma grande bonança. E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mateus 8:23-27).

 

Em última análise, a compatibilidade entre ser maçom e cristão depende da capacidade individual do obreiro de integrar diferentes perspectivas espirituais. Valores universais de amor, compaixão e justiça podem servir como uma ponte entre essas tradições, permitindo uma convivência pacífica e enriquecedora. Ao adotar uma abordagem flexível e inclusiva, é possível harmonizar as riquezas das tradições maçônica e cristã, promovendo um crescimento espiritual mais profundo.

A presença contínua de profetas e sábios em todas as épocas indica que Deus está comprometido a guiar as pessoas em seu caminho espiritual individual. Isso mostra que Jesus era, de fato, um instrutor divino enviado pelo Eterno para iluminar o caminho para a verdade e a vida eterna.

O conhecimento espiritual e a transcendência do mundo material são essenciais para a busca pela salvação e realização divina, de acordo com a compreensão esotérica da traição de Judas e sua colaboração com Jesus. Na tradição esotérica, essa visão vai além da interpretação literal dos eventos bíblicos, oferecendo uma perspectiva mais profunda e simbólica sobre os acontecimentos que culminaram na crucificação de Jesus. Segundo essa interpretação, a traição de Judas não é vista simplesmente como um ato de traição pessoal e de ganância, mas como parte de um plano divino mais amplo. Judas, ao entregar Jesus aos romanos, estaria cumprindo um papel crucial na realização do destino de Jesus como redentor da humanidade. Este ato, embora aparentemente negativo, é compreendido como necessário para que Jesus pudesse transcender a existência material e realizar seu sacrifício final, que abriria o caminho para a salvação espiritual de todos.

Portanto, pode-se concluir que a Maçonaria oferece uma visão rica de Jesus, considerando-o como um mestre moral e espiritual cujas lições de amor, compaixão e justiça devem ser seguidas. Esta abordagem destaca Jesus como um exemplo supremo de virtude e ética, enfatizando a importância de suas mensagens sobre a necessidade de viver de acordo com elevados padrões morais e tratar os outros com dignidade e respeito

(*) João Alexandre Paschoalin Filho, 33

Membro da Academia Campinense Maçônica de Letras

Membro da Loja Constância 1147, Oriente de Campinas/SP

Email: paschoalinfilho@yahoo.com



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