Na Maçonaria, Jesus é visto como um mestre
moral e espiritual, cujos princípios refletem ideais de amor, compaixão,
justiça e verdade. Considerado um exemplo supremo de virtude e moralidade, sua
vida e lições fornecem uma base sólida para o desenvolvimento do caráter justo
dos obreiros.
As lições de Jesus sobre amar o próximo e
tratar todos com respeito são refletidas na Maçonaria, que promove a tolerância
religiosa e a inclusão. Os obreiros são encorajados a respeitar todas as
tradições religiosas e a buscar a verdade espiritual em diversas formas. Esta
ênfase na tolerância reflete a crença de que a verdade espiritual é universal e
pode ser encontrada em todas as tradições. Assim, a ordem promove a unidade na
diversidade com objetivo de construir uma fraternidade global em que todos
possam colaborar para o bem comum. Este ideal está relacionado à mensagem de
Jesus de que todos são filhos de Deus e devem viver em amor e harmonia.
Os maçons são incentivados a trabalhar pela
paz, refletindo o ideal de fraternidade universal promovido por Jesus. Em seus
ritos, a Maçonaria enfatiza viver de acordo com altos padrões morais e tratar
os outros com respeito e dignidade.
A Maçonaria não é sectária, mas admite que os
ensinamentos de Jesus são universais e eternos. O amor, a compaixão, a justiça
e a verdade que Jesus ensinou são considerados pela ordem como valores que
transcendem qualquer religião. A Maçonaria trabalha para promover a paz, a
harmonia e a compreensão mútua, unindo pessoas de todas as crenças sob esses
valores comuns.
Os membros da arte real utilizam-se de vários
símbolos em seus rituais, e Jesus é frequentemente representado por alguns
destes. Sua vida e sacrifício são comparados à construção do templo espiritual
dentro de cada pessoa, sendo ele visto como o "Mestre Arquiteto" do
edifício, podendo ser relacionado à figura de Hiram Abiff. Essa construção
simbólica enfatiza o crescimento ético e pessoal. Neste contexto, o Templo de
Salomão consiste em uma figura arquetípica, representando o ponto de encontro
entre a natureza humana e a divindade. Jesus, como "Mestre
Arquiteto", é visto como uma ponte entre o divino e o humano, ajudando os
obreiros a construírem seus próprios templos internos. Dessa forma, destruição
e reconstrução do Templo simbolizam a transformação espiritual que os obreiros
almejam alcançar, assim como a morte e ressurreição de Jesus. A Pedra Angular
(Salmo 118:22-23), símbolo frequente na maçonaria, também é relacionada à
figura do Mestre dos Mestres, sendo usada como símbolo de estabilidade moral e
constância, ou seja, como base sólida para fundação da verdade e da vida
espiritual do maçom.
“A pedra que os construtores
rejeitaram tornou-se a pedra angular. Isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso
para nós”. (Salmo 118:22-23).
Este versículo é frequentemente citado no
Novo Testamento, especificamente em Mateus 21:42, Marcos 12:10, Lucas 20:17, e
Atos 4:11, referindo-se a Jesus como a pedra angular rejeitada pelos líderes
religiosos, mas que se tornou fundamental na construção do reino de Deus.
Os graus da Maçonaria, especialmente os do
Rito Escocês Antigo e Aceito e do Rito de York, estão intimamente relacionados
aos ensinamentos de Jesus. Nos graus superiores do Rito Escocês, temas como
sacrifício, redenção e iluminação são abordados. O grau de Cavaleiro Rosa-Cruz,
com forte simbolismo gnóstico, é baseado nos ensinamentos de Jesus, enfatizando
seu sacrifício pela redenção e pela verdade espiritual; o de Cavaleiro
Templário do Rito de York também tem forte conexão com os ensinamentos de Jesus
e é dedicado à herança dos Cavaleiros Templários, que defendiam a fé cristã no
passado.
A Maçonaria, com sua longa tradição
esotérica, busca descobrir as verdades ocultas por trás dos escritos sagrados e
das tradições religiosas. Esta tradição vê Jesus como um mestre iniciático que
ensina sabedoria espiritual profunda e oculta aos seus apóstolos e discípulos.
Seus ensinamentos são frequentemente interpretados simbolicamente, oferecendo
significados que vão além da interpretação literal. Na tradição gnóstica, Jesus
é visto como um sábio que transmite ensinamentos esotéricos aos seus
seguidores. Não obstante, muitos obreiros interpretam Jesus como o "Cristo
interno", ou seja, a presença divina dentro de cada pessoa (centelha
divina, santo dos santos), uma ideia compatível com o postulado gnóstico e o
cristianismo místico primitivo apresentado nos evangelhos apócrifos.
Por meio de uma leitura crítica dos
ensinamentos maçônicos e tendo em vista o conteúdo de alguns graus superiores,
a ordem considera Jesus como um dos avatares enviados por Deus à Terra para
nutrir o homem da sabedoria necessária à sua transcendência ao Eterno, tal como
Hermes Trismegisto, Moisés, Confúcio, Mohamed e Pitágoras, os quais também são
portadores de conhecimento esotérico e espiritual. Nesse contexto, Jesus não é
visto como um messias ou intermediário exclusivo entre a salvação e o homem,
mas sim como um mestre iniciático que orienta os aprendizes no caminho. Essa
jornada, representada pelos rituais de iniciação, simboliza a morte do “eu”
profano e o renascimento do “eu” espiritual.
Jesus é frequentemente associado à sabedoria
oculta, que deve ser adquirida por meio da prática espiritual e do estudo
individual. Seus ensinamentos possuem múltiplos significados que podem ser
descobertos por meio da reflexão e da meditação que devem ser praticados pelos
verdadeiros buscadores:
“Mas tu, quando orares, entra sozinho no teu
aposento, e fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai,
que vê em oculto, te recompensará publicamente. E orando, não useis vãs
repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvido”.
(Mateus 6:6-7).
Além deste enfoque na sabedoria oculta, os
estudos esotéricos da Maçonaria buscam compreender as verdades profundas e
universais ensinadas pelo Cristo que subjazem à realidade. Essa é uma das
razões pelas quais a Igreja Católica e outras denominações cristãs tradicionais
mantêm certo conflito com a ordem. A Igreja Católica, por exemplo, condena a
Maçonaria por meio de bulas papais como a "In eminenti apostolatus
specula", emitida pelo Papa Clemente XII em 1738, e a "Humanum
genus", emitida pelo Papa Leão XIII em 1884, que afirmam que os obreiros
vivem em constante pecado.
A questão de se um maçom pode ser considerado
cristão surge devido às divergências entre as perspectivas gnósticas da Maçonaria
e o cristianismo tradicional, pois a aceitação de Jesus como o Messias e
Salvador é fundamental para muitos cristãos. Assim, a Maçonaria pode conflitar
com essa crença ao tratar Jesus como um avatar ou mestre iniciático. O conceito
maçônico de Jesus é visto como um exemplo moral e espiritual, mas não como o
único mediador entre Deus e os homens, o que a difere significativamente da
doutrina cristã e das igrejas estabelecidas.
Como resultado, aqueles que se identificam
fortemente com os ensinamentos tradicionais da Igreja podem ter dificuldade em
conciliar suas crenças com a filosofia maçônica. No entanto, alguns cristãos
conseguem combinar ambas as perspectivas, interpretando a palavra de Jesus de
maneira a harmonizar os valores universais promovidos pela Maçonaria com suas
próprias crenças, ou seja, a Verdade não é propriedade de ninguém, mas sim de
todos que a buscam dentro de si.
Deve-se destacar que ambas as tradições
compartilham valores centrais como amor, compaixão, justiça e verdade. Focar nesses
princípios comuns pode promover um diálogo construtivo, neste contexto, a
prática do ecumenismo e do diálogo inter-religioso é crucial.
A Maçonaria incentiva o respeito por todas as
tradições religiosas, promovendo a inclusão e a compreensão mútua. Por este
prisma, mentores espirituais, tanto na Maçonaria quanto na Igreja, podem ajudar
os indivíduos a navegarem pelas complexidades teológicas e filosóficas acerca
deste tema, a fim de acalmar tempestades espirituais, assim com Cristo acalmou
o mar da Galileia.
“E,
entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. E eis que no mar se levantou
uma tempestade, tão grande que o barco era coberto pelas ondas; ele, porém,
estava dormindo. E os seus discípulos, aproximando-se, o despertaram, dizendo:
Senhor, salva-nos! que perecemos. E ele disse-lhes: Por que temeis, homens de
pouca fé? Então, levantando-se, repreendeu os ventos e o mar, e seguiu-se uma
grande bonança. E aqueles homens se maravilharam, dizendo: Que homem é este,
que até os ventos e o mar lhe obedecem?” (Mateus 8:23-27).
Em última análise, a compatibilidade entre
ser maçom e cristão depende da capacidade individual do obreiro de integrar
diferentes perspectivas espirituais. Valores universais de amor, compaixão e
justiça podem servir como uma ponte entre essas tradições, permitindo uma
convivência pacífica e enriquecedora. Ao adotar uma abordagem flexível e
inclusiva, é possível harmonizar as riquezas das tradições maçônica e cristã,
promovendo um crescimento espiritual mais profundo.
A presença contínua de profetas e sábios em
todas as épocas indica que Deus está comprometido a guiar as pessoas em seu
caminho espiritual individual. Isso mostra que Jesus era, de fato, um instrutor
divino enviado pelo Eterno para iluminar o caminho para a verdade e a vida
eterna.
O conhecimento espiritual e a transcendência
do mundo material são essenciais para a busca pela salvação e realização
divina, de acordo com a compreensão esotérica da traição de Judas e sua
colaboração com Jesus. Na tradição esotérica, essa visão vai além da
interpretação literal dos eventos bíblicos, oferecendo uma perspectiva mais
profunda e simbólica sobre os acontecimentos que culminaram na crucificação de
Jesus. Segundo essa interpretação, a traição de Judas não é vista simplesmente
como um ato de traição pessoal e de ganância, mas como parte de um plano divino
mais amplo. Judas, ao entregar Jesus aos romanos, estaria cumprindo um papel
crucial na realização do destino de Jesus como redentor da humanidade. Este
ato, embora aparentemente negativo, é compreendido como necessário para que
Jesus pudesse transcender a existência material e realizar seu sacrifício
final, que abriria o caminho para a salvação espiritual de todos.
Portanto, pode-se concluir que a Maçonaria oferece uma visão rica de Jesus, considerando-o como um mestre moral e espiritual cujas lições de amor, compaixão e justiça devem ser seguidas. Esta abordagem destaca Jesus como um exemplo supremo de virtude e ética, enfatizando a importância de suas mensagens sobre a necessidade de viver de acordo com elevados padrões morais e tratar os outros com dignidade e respeito
(*) João Alexandre Paschoalin Filho, 33
Membro da Academia Campinense Maçônica de
Letras
Membro da Loja Constância 1147, Oriente de
Campinas/SP
Email: paschoalinfilho@yahoo.com



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